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Fym de uma Era

10 anos de Estradas Batidas
10 anos de Estradas Batidas

Uma ode ao Berg


2015 foi marcado por dois eventos muito importantes na minha vida: meu casamento, após sete anos de namoro (hoje, dez anos depois, completamos dezessete juntos), e a aquisição da minha primeira moto.

Sempre fui aficionado por motos, desde moleque. Meus heróis da infância — Wolverine, Motoqueiro Fantasma e outros — tinham um ponto em comum: a motocicleta. Nunca tive a oportunidade de ter uma, seja por questões financeiras ou pela minha vida nômade, pulando de bairro em bairro, cidade em cidade, e até de país em país.


Hellverine!!!
Hellverine!!!

Foi com a estabilidade do meu relacionamento que surgiu a chance de comprar minha primeira moto. Estabilidade e quase dez anos acompanhando a série Sons of Anarchy. Como muitos, entrei na onda bad boy dos motoclubes na época. Mas, curiosamente, o que mais me atraía no universo das motos não era a iconografia do gangue nem os coletes, e sim as customizações. Foi assim que entrei no mundo da Kustom Kulture, uma tribo urbana onde o que prevalece é a personalização de carros e motos.

Depois de pesquisar motos de média cilindrada, escolhi uma Fym 250cc, de 2007. A marca era meio obscura na época, de fabricação chinesa, que chegou ao Brasil em 2007 e parou de ser produzida em 2009. Tinha motor monobloco, com dois cilindros paralelos, partida elétrica e carburador duplo a vácuo. Comprei essa porque estava com o orçamento apertado e descobri uma comunidade de fãs da marca em um grupo do Facebook. Batizei-a de “Carpeado”, inspirado no jogo The Witcher III, do qual era fã na época.


Carpeado em toda sua glória!
Carpeado em toda sua glória!

Eu sabia que a marca era menosprezada por grande parte da comunidade motociclista e pelos mecânicos. Afinal, já em 2009 as peças eram difíceis de encontrar, e ela deixava a desejar em potência — era a moto mais fraca da categoria custom de média cilindrada, com apenas 17 cavalos. Mas era o que eu podia pagar naquele momento, e já tinha esperado trinta anos para ter uma. Estava mais do que na hora!

Foi em setembro ou outubro que ela chegou. Lembro que pedi ao meu sogro para buscá-la, pois ainda não sabia pilotar. Fiquei ligando e dando marcha dentro da garagem até criar coragem para subir a rampa de casa, que é curta, mas íngreme, e eu temia não conseguir segurar a moto. Com o tempo, fui ganhando confiança, e ela se tornou meu principal meio de transporte desde então.


Em menos de um ano, Berg já estava com personalidade própria
Em menos de um ano, Berg já estava com personalidade própria

Por ser minha primeira moto, não sabia ao certo se 17cv eram muito ou pouco, mas me satisfazia completamente. Minhas primeiras viagens eram trajetos curtos, de 100 a 150 km. Fui até Socorro/SP, para minha lua de mel, com a esposa na garupa, depois para o Lucky Rodeo em Sorocaba/SP, e fui aumentando a distância aos poucos. Até que, em 2016, conhecemos nossos irmãos Geraldo Helcius e Raphael Deeter, do Projeto Tempestas.


A Família que a estrada nos deu!
A Família que a estrada nos deu!

A proposta deles era viajar pelas capitais do Brasil e da América do Sul em suas duas Shadows, com uma regra: não pagar para dormir! Eles se hospedavam em quem os acolhesse, e, em São Paulo, oferecemos nossa casa. Foi amor à primeira vista, e hoje, quase dez anos depois, somos uma família. Foram eles que me deram o empurrão final para me lançar nas estradas. Sentindo que já tinha experiência suficiente, eu e minha esposa partimos para uma jornada de mais de 4 mil km com o Carpeado, passando por Belo Horizonte/MG, Patos de Minas/MG e Brasília, onde nos encontramos com os dois no encerramento do Projeto, em 2017. Voltamos por Uberlândia e retornamos para casa — tudo isso com aquela moto humilde de 250cc e 17cv.


Perdido na estrada para Cristalina/GO
Perdido na estrada para Cristalina/GO

Aliás, minto… Lembra que falei da minha paixão pela Kustom Kulture? Pois bem, uma das primeiras coisas que fiz, ainda em 2016, foi dar um upgrade no Carpeado. Encontrei o Roberto, da Road Rash, que trabalhava com a marca e tinha um projeto para aumentar a potência do motor para cerca de 280–290 cc, deixando-a mais forte.

Foi uma delícia. Com essa preparação e a relação alterada (pinhão 18 e coroa 38), a moto se tornou um pequeno trator. Além disso, instalamos um radiador de óleo para ajudar a controlar a temperatura. Daí em diante, fiz de tudo na motoca. Aprendi muito com o Carpeado: troquei a boia do tanque, o carburador, a relação, e até removi toda a carenagem para repintá-la. Foi uma experiência incrível.

Veio a pandemia em 2020. Minha vida se tornou mais digital, e eu andava cada vez menos de moto. Naquele mesmo ano, montei o Saloon e passei a trabalhar mais online, com lives de ilustração. Em 2022, retomei as estradas e não parei mais. O Carpeado, agora rebatizado de Berg (inspirado em um vídeo da internet), me levou cada vez mais longe: fui a Brasília, Florianópolis, Belo Horizonte e várias cidades de São Paulo. Sempre com o Berg me levando e trazendo em segurança.


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Porém, como nada dura para sempre, em meados de 2024 comecei a notar complicações constantes nas viagens: falta de compressão no motor, perda de potência, peças se desgastando rápido. Com um novo mecânico, percebemos que o Berg estava ficando fatigado. O motor, com uma tecnologia coreana dos anos 80, não aguentava mais o ritmo que eu impunha. No uso urbano e em ritmo mais tranquilo, ele se saía bem, mas nas estradas, com 400 a 600 km em um único dia, as exigências eram grandes, e as viagens foram ficando cada vez mais frustrantes.

Em Outubro de 2025, no mesmo mês em que publico este texto, oficialmente aposento o Berg das jornadas. Não vou vendê-lo — jamais conseguiria. Em vez disso, ele ficará comigo, e vou finalmente trabalhar na sua customização. A ideia é transformá-lo em uma chopper pós-apocalíptica. E o melhor? Você pode acompanhar o processo aqui, pois vou postar tudo!

Mas aí vocês perguntam: “Lobo, então você não vai mais viajar de moto?” Claro que vou! Já tenho outro companheiro de estrada, que se mostrou mais do que apto para aguentar o ritmo do Saloon. Mas isso é assunto para outro texto.


Então é isso, parça! Uma homenagem escrita a esse companheiro de estradas. Se chegou até aqui, nos faça um favor: da próxima vez que abrir uma breja, faça um brinde ao Berg e a essa nova fase que se inicia. Acho que ele merece.


Obrigado por chegarem até aqui, e bora meter marcha até o próximo diário de bordo!


Obrigado, meu parceiro! Aguentou muito e ainda foi simpático!
Obrigado, meu parceiro! Aguentou muito e ainda foi simpático!

Lobo Loss

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